O dia 30 de janeiro de 2024 será para sempre uma data importante na evolução não linear das NBICs (Tecnologias Nano-Bio-Info-Cogno) – o termo ligeiramente desatualizado para um grupo de tecnologias que são particularmente observadas pelos detratores do transhumanismo (ou admiradas por seus adeptos).
Foi nessa data que o primeiro chip Neuralink foi implantado em um cérebro humano. E, agora que aconteceu, parece não haver barreiras para a criação de um ser transumano, “aumentado” em seus pensamentos e reflexões pela tecnologia digital.
Não podemos mais participar do debate “prós” ou “contras”; não podemos lutar contra uma tecnologia existente; só podemos enquadrá-la com os limites que conhecemos. Tomar o exemplo dos tratados de não proliferação de armas nucleares pode ser uma boa base para pensar no que podemos, ou devemos, implementar para limitar as atividades NBIC nos humanos.
Além das projeções vertiginosas que já podemos imaginar quando misturamos avanços em IA generativa e implantes neurais (apenas imagine as capacidades de um colega aumentadas pelo ChatGPT-4 e projete-se 3 anos no futuro com um GPT-7!), parece claro que o risco de hacking cerebral seja plausível, mesmo que socialmente ainda tenhamos dificuldade em aceitar.
O francês Laurent Alexandre, escritor e pesquisador do transhumanismo, já alertava sobre o hackeamento do ser humano na Conferência de Segurança e Sistemas de Informação (SSI) em 2014; o debate não é nada novo.
Ensinar é uma espécie de hackeamento cerebral. Os cérebros de nossos filhos foram programados por séculos de forma mais ou menos industrial, e a imagem da famosa pintura renascentista de Rafael da “Escola de Atenas” está gravada em nossas memórias.
No entanto, mesmo que essa industrialização da “programação” cerebral nunca tenha deixado de evoluir, ainda havia a barreira dos 5 sentidos que envolvia a visão (leitura), audição, e assim por diante.
A Neuralink quebra essa barreira ao afirmar, sob o pretexto de beneficiar a humanidade (ao aliviar a degeneração ou malformações cognitivas), que pode remover a complexidade das interfaces de programação humana. A verdade é que esta não é a primeira interface eletrônica a ser enxertada em um humano. De fato, um implante coclear é uma interface direta com o nervo auditivo. Um marca-passo conectado é uma interface direta com o coração.
A grande diferença entre Neuralink e as interfaces existentes é que ele toca o cérebro diretamente e não apenas um sentido.
A segurança da interface
A segurança dos marca-passos conectados, por exemplo, levantou preocupações de diversos tipos – será que eles seriam capazes de acionar remotamente ataques cardíacos? E é precisamente a segurança da interface que será novamente o calcanhar de Aquiles desse feito tecnológico, pois sem ela, nenhuma supervisão é possível.
Quem controla as APIs da Neuralink teria teoricamente controle total sobre o sujeito equipado?
Como proteger nossos pensamentos mais profundos dessas APIs é uma questão que deve estar no cerne de todas as nossas preocupações, assim como está para o sistema de informação.
Autor
Colaborador: Emmanuel Methivier
Diretor de Business Program e membro do Axway Catalyst na França